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Agora começou antes 

Os trabalhos aqui apresentados - desenvolvidos pelo Grupo de Estudos em Práticas Artísticas, Políticas e Curatoriais, coordenado por Kamilla Nunes -, emergiram de encontros em que nos propúnhamos a pensar a arte contemporânea em nosso país. Antes de tudo isso acontecer, falávamos sobre política da arte e prevíamos diversos encontros para construção de uma publicação, ou algo próximo a isso, que pudesse abordar nossas pesquisas coletivas e individuais. Era fevereiro de 2020 e numa mesma sala podíamos conversar e nos abraçar como se houvesse amanhã. Um amanhã, de certo modo, imaginado, planejado, relativamente previsível. A ideia de organizar uma exposição no espaço impresso foi nos seduzindo: corpo a corpo. 

Até que tudo mudou. Até que o agora se impôs. A Corporeidade precisou se inventar outra. Fomos atravessadas(os/es) pela flecha de um contexto que deixou feridas e mudou a órbita dos processos: não havia como ignorar a pandemia do COVID-19 e seus estilhaçamentos. Incontáveis palavras, inúmeras Notas da Pandemia não foram suficientes. O tempo passou a ser vivido de outro modo, tomado pelos temores e incertezas de um planeta viralizado. A distância física se impôs como necessidade e, o uso de máscaras, como proteção. Foi preciso reinventar o espaço a partir da casa: entre o refúgio e a claustro. Em certos momentos, tudo o que precisávamos era desligar as telas e olhar pro céu, para o lado, para frente, para trás. Ou até mesmo Deixar o céu cair, para que o chão e o teto se invertessem e nos possibilitassem algum outro ângulo de visão. Seria preciso olhar pelos olhos do outro e, talvez, encontrar uma #paisagemroubada.

Desde uma esfera virtual O urbano imaginário é uma estratégia para pensar possibilidades reais de transformação do território conhecido. As percepções acerca da ausência/presença do humano na cidade foram sendo acirradas em nossos encontros virtuais. Se não estávamos lá fora, o que havia então? Decifra-te para olhar o desumano e o mais que humano no ambiente.  Entre Corpos fatiados na cidade assintomática e o Corpo Ixprimidu, haviam organismos em estados de (de)composição. O luto por quem não conhecíamos misturava-se à iminência da perda de alguém perto de nós, ou de nós mesmos. Ar: Lutos em tempos de pandemia nos lembra que até mesmo nossas perdas podem ser sequestradas. Se Poemias são velas acesas para mais de cem mil pessoas cujas vidas foram tolhidas pela pandemia, são também telas içadas para que soprem outros ventos.

Para fazer valer um Pandemônio desejado, para provocar algum Deslocamento, é preciso inventar instruções, navegar levemente desviando e compondo com as restrições. Sem censura prévia, seguimos o movimento de gatilhos afetivos que lançaram nossos próprios corpos nessa via sem rumo. Nesse processo, Danças em Pandemia fez dançarem os espíritos em metros quadrados cuidadosamente demarcados, com movimentos içados para provocar aproximações nos distanciamentos e relações nos afastamentos. Dançamos em um um dia qualquer de Qualquer dia dos 50 dias, movemos nossos corpos em condições e distâncias calculadas, desafiando a imprevisibilidade do agora. O que pode o corpo em pandemia? O que nos foi possível dançar?

Somos pessoas em relação, somos uma grupalidade, um campo aberto de possibilidades de constituição de um em comum. Com nossas casacorpo social e singulares, compartilhamos quinzenalmente saberes e não-saberes, desejos e impedimentos, afetos e disrupções. Vários meses de um chronos duração da pandemia e de um kairós marcado pela intensidade das afecções que possibilitaram emergir os trabalhos aqui apresentados .

Os olhares via écran de um ao outro, de todos ao uno e vice-versa, formatados com as  perspectivas das áreas de conhecimento dos/as participantes, foram adensados com a experiência do trabalho coletivo. Mesclamos, em nossas discussões, saberes e fazeres da pedagogia, arquitetura, dança, artes visuais, psicologia, jornalismo, comunicação, fotografia e cinema. Ouvimos, discutimos, problematizamos questões que, de algum modo, se fazem presentes em cada uma das artes disponíveis a navegadores/as que desejem se aventurar pelas vias desta exposição conectiva. 

O que era para ser uma quarentena se transformou em uma contagem sem fim. Com os corpos cansados, bradamos: Agora, Chega! Entretanto, o grito entoado não foi suficiente para a mudança desejada. A pandemia continuou, as distâncias permaneceram, as mortes continuaram a acontecer. O Luto persistiu, avizinhando-se cada vez mais. O possível para nós, diante desse cenário, foi afirmar que, ainda que na condição de outros, estaremos aqui, Quando tudo isso acabar.

Agora não quero saber de mais nada, só quero aperfeiçoar o que não sei.

 

Manoel de Barros

Grupo de estudos:

práticas artísticas,

políticas e curatoriais

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Iniciado em 2018, o grupo foi criado para o compartilhamento de práticas artísticas, políticas e curatoriais brasileiras, produzidas entre os anos 1960 e os dias atuais. São estudados artistas das mais variadas latitudes e que lidam, também, com variadas linguagens. Os encontros são realizados a partir de conversas polifônicas, com abordagens teóricas, críticas e poéticas, de obras/artistas que são imprescindíveis para a construção de uma história da arte no Brasil. O grupo é aberto, diverso e dinâmico por isso a cada módulo, sua configuração muda. Em 2019, uma parte dos integrantes realizou a exposição coletiva “Toda paixão beira o caos, a do colecionador beira o caos da memória”, no Memorial Meyer Filho. Neste ano pandêmico de 2020, outras pessoas participam da exposição AGORA

Andrea V Zanella

Bodhan

Julia Thomé

Juliana Castro

Juliana Hoffmann

Kamilla Nunes

Katia Véras

Luciana De Moraes

Mulika

Philippe Arruda

Rodrigo Gonçalves

Ruchita

Sandra Meyer

Sandro Clemes

Silvia Zanatta Da Ross

Simone Bobsin

Exposição organizada pelo Grupo de Estudos 
de Práticas Artísticas, Políticas e Curatoriais
ministrado por Kamilla Nunes

Projeto gráfico por Claudio Moreira

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