Na cosmogonia yanomami, descrita por Davi Kopenawa, o fim do mundo acontece quando o céu cai sobre a Terra. Melhor dizendo "o fim de um mundo", o presente, já que este fenômeno teria acontecido repetidas vezes na história do universo.
A seta trágica de realidade lançada sobre nós pela pandemia da COVID-19 rompe frágeis pactos de confiança e desconfigura nossas artimanhas simbólicas, em que nos protegemos de um afeto primário: o medo. Se o trabalho de reconstrução das subjetividades se dá no microcosmo de um "eu";
cindido, a rachadura que se abre no espaço que está entre os sujeitos - a política - traz ao perceptível diferenças sociais avassaladoras, injustiças, dores, ignorâncias, ascos, ódios. Quando tudo parece alargar o pessimismo da razão e estreitar o otimismo da vontade, a restauração de nossos mananciais simbólicos nos impele a duvidar e a aceitar a dor da incerteza. Para refundar utopias, deixa o céu cair.
Instalação (adesivo em vinil recortado sobre vidro)
2020
mini bio
Sandro Clemes
Nascido em Florianópolis |SC, desenvolve atividades ligadas à elaboração e gestão executiva de projetos de arq-design em interiores residenciais e comerciais, bem como em cenografia e cenotécnica para espetáculos teatrais em variadas escalas, curadoria e expografia para mostras e eventos nos campos da arquitetura, design e artes performativas. Em 2018, idealizou o projeto “Constituintes Urbanos”, mostra integrante da Paralela Bienal de Arquitetura e Artes, em Florianópolis. Na mesma cidade, é co-curador da programação cultural do hub CasaCanto. Participou, ainda; em 2019 da exposição coletiva “Toda paixão beira o caos, a do colecionador beira o caos da memória", no Memorial Meyer Filho.