Da série Qualquer dia dos 50 dias
Foi pelo muro que olhei para fora. Confinada, isolada, enquadrada em outras arquiteturas tentando entender como a pandemia nos atravessa para produzir novas possibilidades de contagem do tempo e da vida. Pelo muro, congelei o tempo num clique, numa imagem, para expressar uma experiência individual em contexto e sentimento coletivos – suponho.
Foi pelo muro e sua representação simbólica que me dei conta da melancolia da perda da deriva, do afastamento do divino, de como os corpos têm ocupado os espaços públicos e privados, criando novas coreografias, e de como fomos apartados do lugar do encontro na cidade. Reinventamos a janela-muro como o espaço público possível. Nessas capturas digitais por celular, realizadas em momento de confinamento no Rio Grande do Sul, são tentativas para uma síntese do agora, no mesmo lugar. Formas de registrar a memória de um momento para além do muro. Cenas que querem transpor um muro utópico que protege, isola, vigia. Isola de quem? O que nos protege? Muros, paredões, limites, tempo...
Qualquer dia dos 50 dias. Pelo muro. Avisto para silenciar.
Fotografia, dimensões variáveis, 2020.
mini bio
Simone Bobsin
É jornalista, editora e publisher, nascida em Caxias do Sul |RS, formada na Famecos - PUC, no Rio Grande do Sul. Há mais de duas décadas atua no segmento de arquitetura e design, em diferentes mídias, em Santa Catarina. No momento, é publisher da multiplataforma ArqSC. No campo da arte participou da curadoria do Coletivos Criativos da Bienal Brasileira de Design Floripa 2015. À convite da curadora Kamilla Nunes, integrou a Feira de Arte e Design realizada no O Sítio, com um espaço dedicado ao design. Em 2019, participou da mostra coletiva “Toda paixão beira o caos, a do colecionador beira o caos da memória”, realizada no Memorial Meyer Filho e da instalação imersiva “Múltiplos transbordamentos”, com os artistas Juliana Hoffmann e Augu Alenc, no Casahall Design District, em Balneário Camboriú.